
Hoje eu me peguei numa trairagem inacreditável, digna de divórcio, isso se fosse possível me separar de mim mesma, é claro. Até que, de vez em quando, não seria nada mal, viu? Só assim eu teria uma folga da minha picaretagem. Traíra, infiel, malandra, pensa que é esperta, “se acha a última bolacha do pacote”, tsc tsc tsc…
A pessoa se vê – em plena dieta – com desejo de comer paçoca (logo paçoca? isso normalmente acontece com chocolate…). O que ela faz? Vai lá e compra, sem pensar duas vezes. Não satisfeita compra logo o pacotinho com cinco paçocas… êpa, como assim, e a dieta? Abstrai…
Cheguei em casa e caí de boca na paçoca… nham nham! Só depois que fui olhar aquela porcaria de tabela com informações nutricionais que tem atrás de todo produto comestível, que só falta dizer para você – “Não me coma, aliás, não coma nada, tudo engorda, até o ar, respirar engorda, viver engorda, existir engorda…”
E o pior é que eu peguei a mania chata de consultar essas tabelinhas medonhas. Vou me tratar, juro. Preciso parar com isso, senão eu piro de vez. Já tenho tantos defeitos, se eu resolvo me transformar num projeto-de-natureba-neurótica-diet-chata-zero-caloria, ninguém me aguenta. Sem contar que isso é tortura, e gostar de sofrer não é muito a minha praia.
Bom, voltemos à paçoca… estava escrito lá na tabelinha: 142 kcal por porção!!!!!!!!!!!! Meeeuuu Deuuuusooo, como assim????? Um trocinho daquele, tão pequeno, aparentemente tão inofensivo, com três dígitos calóricos? Não pode, tá errado! Mas, não estava, eu me certifiquei.
Foi aí que entrou em cena o meu “eu sabotador”, que teve a brilhante idéia de esconder o pacotinho com o restante dos pequenos e monstruosos doces de mim.
Segundo ele, o ideal seria manter aquela tentação fora do meu alcance, e bem longe do meu campo de visão. Assim eu me esqueceria da sua existência e, com sorte, se os doces ficassem bem escondidos, eu não conseguiria encontrá-los depois, pois não lembraria onde os guardei. É, ele me conhece bem, sabe que se trata de uma pessoa com DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção).
No dia seguinte, adivinhe só, acabei de almoçar, e do que lembrei instantaneamente? Bingo! As malditas paçoquinhas. Nem pestanejei, fui direto ao esconderijo e devorei mais uma. Fui lá, peguei os benditos (malditos?) doces e mudei de lugar, mas não adiantou, encontrei de novo, e de novo. O meu “eu sabotador” fez questão de registrar milimétricamente minhas estratégias de esconderijo, filho da mãe inútil.
Agora, a caneta que eu rodo a casa inteira procurando, e só depois que desisto e pego outra para usar, aparece enrolada num coque no meu cabelo; os óculos que somem até eu descobrir que já estão – literalmente – diante dos meus olhos; a chave que some num fundo falso e desconhecido da minha bolsa na hora que eu preciso sair; o cartão do banco que desaparece para me fazer pensar que fui roubada e bloqueá-lo, para só depois ressurgir das cinzas, ahhh…nada disso o meu cérebro registra, é óbvio.
Não, eu gosto mesmo é de me sabotar, ordinária! Afinal, lembrar aonde está uma paçoquinha de 142 kcal é infinitamente mais importante do que qualquer outra coisa, eu sei.
Roberta Simoni
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