Eu tinha um jardim… na verdade, eu ainda tenho. Só que metade das plantas morreram nessa minha temporada de viagens. Juro que eu pensava nelas todos os dias, torcendo que chovesse e que o sol não as castigasse tanto.
Entrei em casa largando as malas pelo caminho e correndo para vê-las, pobres “meninas”… muitas morreram, foram poucas as que resistiram. Retirei todo o mato que cresceu, e todas as folhas e flores que morreram, reguei as que sobreviveram e me desculpei sinceramente por tê-las abandonado.
Meu pequeno jardim ficou pronto para receber novas flores. Mas ainda estou pensando sobre o assunto… não acho justo plantar novas plantas e depois viajar de novo, ou ir embora, deixando-as morrerem. Especialmente se tratando de alguém como eu, que tem um vida tão nômade.
Hoje eu fui acordada pelo canto dos pássaros. Eles voltaram agora que limpei o meu jardinzinho, felizmente! Enquanto estou no computador, ouço a cantoria deles. E perco horas observando-os na minha pequena varanda verde.
Eles enchem a minha casa de alegria, melodia, e vida. E nessas horas eu percebo o quanto é vital, para mim, estar em contato com a natureza, especialmente com a vida animal. Mais uma vez, faço das palavras da Lispector as minhas: “Ter contato com a vida animal é indispensável à minha saúde psíquica.”.
Metade das plantas fui eu quem plantei, a outra metade foram trazidas por eles: os pássaros. Quando comecei a cuidar da terra, novas espécies foram surgindo, e eu não conseguia descobrir a origem delas. Até que, um dia, observei um passarinho colocando uma sementinha na terra, e dessa sementinha nasceu uma planta com flores brancas lindíssimas, que, por sinal, é a mais linda do meu jardim.
Impossível não fazer uma analogia entre o jardim e a minha vida. Impossível pensar nisso e não me emocionar, ainda por cima ouvindo o Vander Lee cantando Meu Jardim, que é a definição perfeita de tudo isso. Não há como negar: a minha vida está exatamente como eu descrevi o meu jardim. Ainda que eu só esteja percebendo a semelhança entre os dois agora, enquanto escrevo, absolutamente sem a intenção de criar uma metáfora.
E agora que cuidei do jardim da minha casa, acho que chegou a hora de regar as minhas próprias flores. De podar minhas folhas secas, de arrancar pela raiz as plantas mortas, que nunca mais darão flores. De molhar a terra ressecada e atrair os passarinhos de volta para a minha vida.
É hora de me desculpar comigo mesma por ter me abandonado, por não ter cuidado bem de mim. Por ter deixado as folhas secarem, as flores murcharem até morrerem, o mato tomar conta de tudo e por ter afastado os pássaros e as borboletas.
É hora de beber as minhas culpas e regar a terra com as minhas lágrimas e com o suor que eu tenho poupado. De preparar o meu terreno para as sementes novas. É hora de refazer o meu caminho. De dar um passo para trás, para depois dar dois para frente. De fortalecer as minhas raízes, a minha luta, a minha vida. É hora de cuidar do meu jardim, e me preparar para a próxima temporada de flores!
Roberta Simoni