Dor Curtida

União

Acho que o meu estoque de lágrimas acabou!  – Cissa pensou, enquanto assistia comovida o seu querido se debulhando em lágrimas, e disse: Meu bem, eu sequer consigo ter forças para continuar chorando!

Então vem cá, deita aqui. Eu choro por nós dois até a nossa dor passar, tá bom?

Bastou Cissa encostar a cabeça no colo dele para começar a chorar. Era a falta de calor humano que havia secado suas lágrimas, mas Pedro fez chover de novo no seu coração, como ele sempre fazia. Bastava tocá-la.

Eles choraram juntos, e quando os soluços começaram a cessar, Pedro disse: – Querida, depois que terminarmos de chorar, podemos almoçar? Cissa então se levantou, secou o rosto e ainda soluçando um pouco, foi preparar a comida. Ela também estava faminta.

Aquela dor havia se tornado tão presente e frequente entre os dois que já nem havia mais o que conversar, discutir, brigar, tentar entender, resolver… eles já haviam tentado de tudo, e a dor continuava lá. Eles também tentavam evitá-la, ignorá-la… fingiam que ela não estava lá, mas a dor não é muito boa com esconderijos e é sempre muito fácil encontrá-la, mesmo quando eles não a procuravam, ela sempre aparecia, sempre estava lá, garantindo um lugar bem próximo deles.

Eles então, choraram, e já cansados de tentar entender, esconder ou fugir, sabiam que apontar um culpado era total perda de tempo (eles já haviam tentado isso também). Afinal de contas, ninguém tem culpa. Eles finalmente estavam começando a entender que aquela dor precisava ser simplesmente sentida até se esgotar, assim como a paixão foi.

E depois de sua dose diária de dor, Cissa e Pedro mataram a fome, tomaram vinho, conversaram sobre coisas banais, distraíram-se com a televisão e bocejaram, porque chorar cansa tanto…

Ele apoiou a cabeça no ombro dela, e enquanto ela fazia cafuné nele, eles  adormeceram juntos por alguns minutos. Eles finalmente estavam  descobrindo que havia muitas outras coisas para serem curtidas a dois além do utópico amor pleno.

Roberta Simoni