E era simples. Bastava dar literatura a ela e lançá-la à beira-mar antes que o sol desse lugar à noite. De nada mais ela se queixava e até duvidava se você ousasse dizer que ela tinha problemas tantos a resolver. E corajoso do sujeito que tentasse lembrá-la de seus afazeres, que estivesse preparado para ser sumariamente ignorado ao alertá-la da casa e da vida bagunçadas para arrumar, o barulho das ondas quebrando era estrategicamente ensurdecedor.
E era paz. A moça tagarela se calava para ouvir, só assim. E tudo ao redor falava, o livro, o mar, a maresia, as conchas, os grãos minúsculos de areia quando a tocavam. Era o “Deus” dela que conversava quando a calmaria chegava. E ela se escutava. E confidenciava seus segredos ao pé do ouvido do vento, que soprava mansinho para ela não perceber que cochichava com as aves.
E era real. Tocava os pés na água salgada e fria e se encharcava da sensação maravilhosa que era ter um corpo com sentidos. Sentia-se deleitamente viva e conectada com o mundo bom. E não se envergonhava do prazer exposto ao sol, quando a pele arrepiava seus pêlos com a brisa fria que o fim da tarde trazia e o sol ameno a envolvia num abraço que a aquecia em puro gozo. Depois sorria largo, sem se importar, sem direção, mas com todas as razões que lhe cabiam. E também ria solto pelo que desconhecia, mas sentia. E ela bem sabia o que sentia.
Roberta Simoni
(Recebi essa foto do Marcelo, lá de Brasília, novo amigo que fiz bem aí, nessa praia, enquanto eu lia meu livrinho. Ele teve a feliz ideia de tirar essa fotografia antes mesmo de me conhecer, e depois teve a coragem de me contar seu feito arteiro, e agora, por fim, me mandou a foto de presente, que me encantou por ser um retrato espontaneamente poético. ;))
Falar da forma como escreve é cair no senso comum Beta. Pra te ser sincero eu nem comentaria.
Ficaria aqui lendo e relendo e viajando nas sensações que suas palavras causam.
Até que lembrei de um dia na praia, nas pedras, uma aula cabulada e alguns jovens com uniformes molhados de inocente subversão sem maiores preocupações. Apenas vivendo um momento que eles não tinham ideia que seria tão imensamente saudoso. E achei que você deveria saber.
Um Abraço, Amiga. Obrigado por Ser.
Igor André
(ordemincaos.blogspot.com)
Ps.: que fim levou a camera?
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Ahhh, meu amigo… eu posso dizer, sem o menor medo de ser feliz, que esse dia que você me fez relembrar agora (sim, relembrar, porque nunca esqueço.) foi um dos mais felizes da minha vida.
Preciso escrever um post só sobre ele qualquer dia desses. Está vivinho aqui na memória. E eu ainda posso sentir a minha alegria daquele dia ao estar naquela praia praticamente deserta com os meus melhores amigos, enquanto deveríamos estar assistindo aula. E você lembra de quem foi a ideia de pularmos das pedras de roupa e tudo? Pois é… lá fui eu, de calças e camiseta, me jogar para um dos melhores mergulhos que já dei na vida. E depois fomos todos juntos!
E vocês voltaram andando pra casa, pertinho dali, e eu voltei sozinha de ônibus, de uniforme pingando, tênis ensopado, cabelos encharcados, debaixo do sol de meio-dia, em pé com o ônibus praticamente vazio. Na rua, todo mundo olhando e rindo, e eu rindo mais ainda. Tentei esconder de mamãe, mas deixei rastros de areia e sal no tanque. Acabei contando… e eu só não fui punida, ou levei um esporro maior ainda, porque contei com tanto entusiasmo, e ela ficou tão incrédula que acabou rindo, ainda que contida.
Obrigada você, meu amigo, por SER parte fundamental dos meus momentos felizes.
Que fim levou a câmera? Isso mesmo, FIM. O susto que vocês deram na Nikita foi tão grande que a bichinha faleceu. Levei pro conserto, mas já me avisaram que, provavelmente, é caso perdido. Ela foi lá pra autorizada em SP, e me deixou aqui, abandonada. Já perdi dois trabalhos essa semana e quase surtei. Agora tô na corrida pra comprar outra, não adianta ficar chorando em cima da câmera falecida. Obrigada por perguntar. Te mando o endereço do sepultamento para que você possa prestar sua última homenagem. Sim, porque, você sabe que a última imagem que ela viu na vida foi a sua, de Birinha e Rafael, né? Pobrezinha, merecia um fim mais feliz… kkkkk :p
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Até eu, que não gosto muito de praia, fiquei “viajando” junto com o texto.
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me senti deitada na areia, lendo e ouvindo as ondas.
bjs
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Linda como sempre! 🙂
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Ai como queria fugir pra praia horas dessas pra lavar a alma e sentir o arrepio que aquele lugar provoca.
Amei! Muito…
Pena que tá frio…
Pena que ainda não posso pegar sol…
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e era tanto que eu tinha pra dizer agora… Mas no final tinha um Obrigada, Beta!
Que por hora basta.
Um beijo.
C
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PQP vou far com Rafael e Birinha pra jamais aparecer na frente de uma camera novamente. Sinto muito pela pobre Nikita, tambem acho que não merecia fim tão trágico? O que? Você tambem me incluiu? Ahhhh sua FdP!!!! hahahahahahahah
Vou cobrar pelo post. Aquele dia merece. Eu não fiquei sabendo da sua odisseia de volta, mas pode ter certeza que as lembranças da sua tarde são melhores que a minha se é que me entende ¬¬ haahahhha
Beijos Moça!!! E tomara que a Nikita ressuscite porque tu ta precisando de trampo!!
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Ah, que coisa mais linda…
A foto, as palavras, as sensações.
Um presente compartilhado, com certeza.
Grande abraço, Roberta.
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kd vc?
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O texto caiu como uma luva para a linda imagem. Não resisti. Foi mais forte do que eu. rssss
Mas se eu tivesse lido esse texto antes da foto… ela não sairia tão perfeita !!!
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