Somos mais.

No primeiro sonho eu usava um vestido tomara-que-caia branco, dançava e ria numa festa que acontecia no seu apartamento, que era o único que parmanecia intacto sobre a estrutura de um prédio em pleno desmoronamento. No segundo sonho o cenário era uma festa de gente elegante, e, segundo você, eu estava deslumbrante, num vestido escuro de veludo, que você não sabe se era verde musgo, azul marinho ou preto, tinha um decote bem cavado nas costas, minha cabeleira quase toda presa, com alguns cachos soltos, brincos enormes e brilhantes, uma gargantilha combinando, e eu sorria tanto, mas tanto… e girava e girava…

Eu era quase tão escandalosamente feliz quanto uma gargalhada. E você ficava em estado de êxtase puro, enquanto sonhava e, depois ainda, quando acordava.

Seu corpo que ainda teima em girar com o meu, feito criança que gosta da brincadeira e não quer nunca mais parar. Meu corpo que reage com gargalhadas gostosas e falta de ar. De olhos fechados, dá a impressão de que os nossos pés vão sair do chão e alçar vôo a qualquer instante. E a gente brinca. Brinca que a vida é uma festa, no seu apartamento entre ruínas, na minha cabana, numa festa de granfinos com brilhantes que ninguém diria que são falsos, ou na padaria da esquina, comendo o melhor pão com manteiga que existe.

Fico tonta, mas você continua a me rodar. Tenho medo, mas não dá vontade de parar. Você diz que não cabe dentro de tanta felicidade, e me falta fôlego para te responder que você é maior do que pode imaginar. O lustre do teto do quarto ainda está rodando, meu corpo está imóvel e silencioso, coberto com um tecido macio que não é o vestido de veludo do seu sonho, é só o lençol da minha cama que me envolve enquanto assisto aquelas duas criaturas divinas dançando, rodando e rindo alto, sem parar. O lustre cai, o teto some, e só o que existe é o céu da gente.

Que ousadia sua achar que eu existo além dos seus sonhos. E corajosa de mim acreditar que você é real. Não somos palpáveis. Somos mais.

Roberta Simoni

16 comentários sobre “Somos mais.

  1. Venho acompanhando o seu blog há algum tempo, e fico simplesmente maravilhada pela forma como você retrata cenas tão singelas de forma tão inesperada. Parabéns!!!

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  2. …e tudo isso, Beta, é porque se você tem amor, você não precisa de mais nada, e se você não tem amor, não importa muito o que você tem.

    Retratar cenas singelas de forma inesperada? Culpa de ter nascido anormalmente sensível, sentindo um aperto no lugar de um toque, fazendo de um simples infortúnio toda uma interessante tragédia, extasiando-se com prazeres semi-invisíveis.

    Não sinto pressa alguma em terminar minha serenata debaixo de sua janela…

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    • Guido:

      Quem é mesmo que tem o dom de emocionar por aqui, hã?!?

      “Culpa de ter nascido anormalmente sensível, sentindo um aperto no lugar de um toque, fazendo de um simples infortúnio toda uma interessante tragédia, extasiando-se com prazeres semi-invisíveis.”

      O que foi isso, heim? Que lindo, gente…

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  3. Minha “melhor amiga de infância desde o mês passado”…

    Quando vc vier aqui em casa, não me deixe esquecer de tocar pra vc uma música que compus há alguns anos – e que tem TUDO A VER com seu conto!!!

    Conto que encanta… e que nos faz “girar” com seus sonhos em palavras!

    BRAVO!!!!!!

    Bjs mis!

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  4. Tenho certeza que pra muitas pessoas, muitas que você nem poderia imaginar, pensa em você como um sonho.
    Uma pessoa inatingível não pela sua “invulnerabilidade”, mas pelo impacto que sua imagem, sua inteligência e personalidade imprimem.
    Uma pessoa que se admira sem tocar, que deseja sem poder ter, mas se ama por amar, porque o amor verdadeiro é incondicional.

    Parabéns por ser quem você é.

    Beijosssssssssssssssssss

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