Cidade Apática

Eu tive sorte de não ter de voltar para casa sozinha numa noite como a de hoje. A chuva me fez companhia. Chove desde o ano passado aqui no Rio, sem parar. O sol insiste em não voltar das férias que resolveu prolongar em algum lugar longe daqui e a cidade parece ainda dormir. Quem já acordou para 2011 anda sonolento, sob o efeito de algum calmante.

Embora eu adore a chuva tanto quanto adoro o sol, definitivamente todo esse cinza não combina com a gente. Só faz aumentar a preguiça de começar mais um ano. Sem ânimo. As pessoas, os bichos, as árvores, as ruas molhadas e até os postes estão com a cara amarrotada de sono, bocejando. E eu ando achando tudo muito estranho.

Cariocas não gostam de dias nublados.

Hoje eu senti como se estivesse andando pelas ruas de Londres, não que eu conheça Londres tão bem assim, na verdade eu nem conheço, mas vejo nos filmes toda aquela beleza triste. Quem já viveu lá confirma: “se você não se cuidar, aquele lugar te deprime.”

Nesses primeiros dias do ano o Rio de Janeiro anda assim, com cara de quem acabou de acordar de uma noite mal dormida. Letárgico, dormente, apático. Nós, robôs, marchando lentamente ao trabalho, indiferentes, ainda com a cabeça nos problemas do ano passado e nos planos para o ano que vem. Parece que ninguém mais cai no conto do “ano novo, vida nova” por aqui. Pena. Eu queria cair.

Roberta Simoni