
Há quem diga que aniversariar é muuuuito legal. É o que quase todas as pessoas que fazem aniversário acham. Considerando que todas as pessoas fazem aniversário e que a grande maioria gosta disso, eu posso adicionar mais este fato à minha lista de elementos que comprovam que eu sou uma pessoa esquisita. Uma estranha no ninho. Uma anomalia. A ovelha negra da família. Da humanidade. Enfim, uma aberração. Disfarçada de mulher. O que dá no mesmo, porque toda mulher é, de certa forma, uma aberração. Só isso explica o fato de sangrarmos mensalmente e sobrevivermos. E todo mundo conhece essa piada infame que não tem a mínima graça.
Mas eu posso contar a piada mais infame do mundo, porque eu estou prestes a fazer aniversário e isso torna tudo muito difícil pra mim, especialmente depois de receber um e-mail do “Google Alerts” avisando que há uma nova publicação na internet onde meu nome foi citado… num site de vídeos pornôs. Não, não… melhor ainda, o alerta dizia assim: “Roberta Simoni – PORNOSTAR” (sou chique, tá meu bem? Sou STAR!). Bom… há muitas Robertas por aí, mas poucas têm o sobrenome “Simoni” (que o mio nono importou lá da Itália). Por via das dúvidas, fui verificar, vai que alguém instalou uma câmera escondida na minha casa, vai que… né?
Acabei descobrindo três possíveis explicações para este fenômeno: 1) alguém, por algum motivo que jamais saberemos, resolveu “taguear” esse (o meu?) nome em um site pornô, apesar de eu desconhecer a existência dele (pelo menos desse…) até o presente momento; 2) Roberta Simoni virou nome de guerra, 3) Existe por aí uma Roberta Simoni loira e com seios dez vezes maiores que os meus e 20 litros mais pesados.
Agora, pornografia e seios à parte, mas nem tão à parte assim. Comecei a sentir um tremendo incômodo nos meus, junto com uma cólica sem razão de existir, pausei a escrita para fazer xixi, e… pois é. Quem diria? Não obstante a inconveniência da visita fora de hora, sua chegada com mais de dez dias (eu disse mais de 10, d-e-z!) de antecedência indica que: 1) além do maldito inferno astral, eu estava de TPM; 2) meus hormônios estão tão descompensados quanto eu; 3) eu estou descompensada por consequência dos meus hormônios e não o contrário; 4) fazer aniversário é prejudicial à minha saúde, inclusive a mental; 5) eu fui punida por causa da minha piada infame, 7) nenhuma das alternativas anteriores.
Dito tudo isso, é possível compreender melhor este mal estar de véspera de aniversário. Não que eu não suporte a ideia de envelhecer, o que eu não suporto é perceber que a idade aumenta, mas o salário não. Envelhecer em si, chegando perto dos trinta, ainda (eu disse ainda!) não chega a ser um drama. Acho que o problema nem está em fazer aniversário, a culpa é toda da palavra “comemorar”. Temos que comemorar! Temos que comemorar! Não, na verdade, comemorar não é problema, a culpada é a palavra TER… ter que comemorar, ter que ser um dia especial, ter que pensar no que fazer, ter que comprar o bolo, ter que convidar a tia Creuza, ter que aturar a noiva do Gerônimo a tiracolo. Pronto, acabou a festa!
Mas os meus pais ligaram dizendo que estão vindo pro Rio comemorar comigo e isso me deixou muito contente porque é a primeira vez que que eles fazem isso em 9 anos, desde que me mudei pra cá. O que, por outro lado, me deixou extremamente preocupada porque 1) eu vou ter que faxinar a casa correndo; 2) eles só colocam os pés no Rio de Janeiro em caso de vida ou morte, ou melhor, em caso de “morte ou morte”, tamanha implicância com a cidade que escolhi para viver (sem justificativa, é claro…), 3) eles estão realmente preocupados comigo, embora eu jure de pé junto que não tenho pensamentos suicidas.
Só sei que, apesar de eu ainda não fazer a menor ideia do que vou fazer, de repente eu fiquei muito animada com a comemoração de mais uma primavera, mas aí, de repente, eu vislumbrei a cena do Juninho cantando: “A-ha, u-hu, ô Beta eu vou comer seu bolo…” ou ainda, “A chuva cai, a rua inunda, Roberta eu vou comer seu bolo…”
Mas poderia ser pior… espera aí! Lembrei, lembrei… a culpa é do “Com quem será?”. Na minha infância eu tinha verdadeiro pânico quando cantavam essa música pra mim na hora do parabéns, desde então, tomei pânico de aniversário. É claro, é isso! O mundo todo faz sentido agora.
E eis que 27 anos depois vou me libertar. Essa música não me incomoda mais, embora ninguém tenha encontrado uma resposta até hoje para a fatídica pergunta: “Com quem será que Roberta vai casar?”
Se a minha avó estivesse lendo o meu blog agora, ela teria uma resposta na ponta da língua: “com ninguém, essa daí é caso perdido, vai esperar eu morrer para me dar o bisneto que eu tanto peço!”
E, pronto, eu já tô rindo só de pensar nela falando isso, enquanto escrevo e saboreio o meu de-li-ci-o-so toddynho de caixinha e penso no quanto é bom ultrapassar gerações mantendo antigos hábitos! Já é um feliz aniversário… e eu quero é bagaceira, nem que seja com achocolatado!
Afinal, aniversariar é… inevitável.
Roberta Simoni
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