Me declaro culpada – ou escritora.

Não tem coisa pior do que acordar chateado. Não falo de mau humor, mas de chateação mesmo. Dormir ainda vá lá. Rivotril e similares estão aí pra isso. Eu nunca tomei, e não é que eu faça campanha contra as drogas, é só medo de gostar e nunca mais conseguir dormir sozinha de novo. E atualmente eu tenho gostado de não ter com quem dividir a minha cama. Não me chamem de espaçosa. Ou chamem. Eu sou mesmo.

Sentir-se aborrecido logo que se abre os olhos pela manhã é tão ruim ou pior do que acordar de ressaca, porque na maioria das vezes é irremediável, não dá pra fechar os olhos e simplesmente voltar a dormir.

Dali pra frente duas coisas podem acontecer: ou você melhora, ou a coisa desanda de vez, e não te sobram muitas alternativas além de se lançar nas horas seguintes e ver no que vai dar. Afinal, você tem contas a pagar e o trabalho não costuma te dar o luxo de fugir, tampouco de se esconder, mesmo que seja debaixo do seu cobertor, o lugar mais óbvio – e delicioso – do mundo!

Não é como se eu estivesse contrariada com o mundo, o que, eu sei, acontece invariavelmente. Eu andei foi de mal comigo. E não sei se me sinto totalmente preparada para escrever essa afirmação no passado, mas vou arriscar. Sim, eu estava de mal comigo, mas estou melhor – frase afirmativa no presente.

A causa? Eu poderia citar alguns motivos bem razoáveis, mas vou direto ao ponto mais crítico: a verdade e é que eu andei tentando me convencer de que eu não sei escrever ou não sou capaz de fazer isso direito. Logo isso. Isso que eu amo fazer. Isso que eu nasci pra fazer. Isso! O próximo passo depois disso, é claro, foi entrar em crise existencial.

A má notícia é que não foi a primeira e possivelmente não será a última. Quem escreve sabe do que estou falando. A boa notícia é que passou. Eu sobrevivi a mim.

Não! Você não vai me ver dando pulos de alegria por isso, nem rindo feito uma hiena por aí, o que é bom pra você, afinal. Quem ri de tudo é desespero, como já dizia o Frejat (ou não foi ele? enfim…). Eu só constatei o óbvio: ninguém escolhe ser escritor, você nasce assim e pronto. Pode até escolher fazer uso desse dom ou não, mas é que chega num ponto em que ou você pula do barco e vai tentar fazer qualquer outra coisa da vida ou você se aceita assim.

“Se aceitar assim” soa como defeito, eu também acho… Mas é quase isso. Se assumir escritor é aceitar que você vai sempre andar nas ruas olhando para as pessoas e encontrando semelhança entre elas e os personagens que você cria, como se eles de fato existissem fora do papel. É assumir que você vai sonhar com eles e vai se sentir perseguido. E que você vai se achar um merda toda vez que passar um dia inteiro sem escrever nada. E que vai querer transformar tudo em história, ou vai ver história em tudo, onde ninguém mais vê. Em suma: é assumir-se maluco.

E aí, depois de finalizar um conto que enviei pro concurso “Eu amo escrever” que só tomei conhecimento nos últimos dias, já no finalzinho do prazo para a entrega dos textos (que vai até o dia 26 de agosto, para quem quiser se arriscar como eu, ainda dá tempo…), acabei me deparando com o vídeo do escritor João Paulo Cuenca e me senti compreendida, mais do que isso, foi como receber um afago.

Então, escrevamos! Felizmente, não há outra opção.

Roberta Simoni

14 comentários sobre “Me declaro culpada – ou escritora.

  1. invariavelmente acredito que todo mundo passe por isso de vez em quando, e sempre relacionado com aquilo que a gente faz por paixão. porque paixão é assim mesmo, arrebatadora e destruidora da lógica (por isso estás desculpada de pensar uma bobagem dessas! tu não escrever bem… que loucura!)

    mas te entendo, eu vivo tendo crises com minhas fotos, e olha q elas são só hobbie!
    beiju

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  2. Gosto bastante de seu blog e acho que voce escreve bem. Nao deixe que o conflito entre escrever por prazer e escrever para o “ganha pao” te facam parar de produzir, mesmo que seja so para ti. O que seria uma pena para nos seus leitores.

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  3. Quando leio seus textos me emociono,reflito, me identifico na maioria deles, e fico na expectativa da sua próxima postagem.Monitoro seu blog toda semana só para ter a certeza que estou atualizada com seus texto.Crise existencial todos temos a diferença é de como saímos dela (clichê). Escrever bem é um dom.Então aproveita é para poucos e você selecionada.

    OBS: Votei no seu conto no concurso não sei por que,mas a Cora me pareceu um pouco a Roberta!

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  4. Já ouvi dizer por aí (da boca de um(a) cretino(a) qualquer) que crise existencial só acontece até certa idade, e que perto dos trinta anos é frescura. Até hj tenho vontade de matar o(a) infeliz que vomitou estas palavras!
    Crises acontecerão por toda a nossa existência para quem de fato existe e vive! Quem vegeta não terá esse problema, fato.
    Seus textos são inspiradores, e eu tb me identifico com eles. Vc nasceu sim para escrever! Renegar este dom seria crime!
    Beijos, Liana.

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  5. Meu pai sempre me diz: “tá achando difícil? vira bancário!” (pessoalmente nao tenho nada contra os bancários) mas não é uma vida que me seduza. Viver de “luz” é complicado, e eu não sei viver de outra coisa.
    Mas a crise é eterna! Será que eu sei fazer isso?
    Vamos tentando. Insistindo. Caindo e levantando!
    Beijo.

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  6. Desculpe, não é deste post a frase abaixo… mas é a simples e puro, e ocorre todos os dias.
    “Morte não-literal ninguém vê, ninguém sabe. Só você. Muita coisa que nasce na gente, só a gente vê morrer e é assim que tem que ser.”

    E, obrigada por escrever! =)

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