Enquanto isso, em Paris…

Esses dias meu ex-namorado veio me perguntar se eu tinha mandando um e-mail para a atual namorada dele… hein?

Por que eu faria isso? Mesmo se a minha louça estivesse toda lavadinha (o que não é o caso) e eu não tivesse coisa melhor para fazer, eu trataria de arrumar.

– Por que, diabos, eu mandaria um e-mail para a sua namorada?

– Sei lá. Ela disse que você mandou.

– Ah, é? O que eu dizia no suposto e-mail? Desculpa, mas não consigo me lembrar…

– Não sei direito, mas parece que você dizia que apesar de vocês não serem amigas, você não gostaria que fossem inimigas e coisa e tal… um e-mail “de boa”…

– Sei. E você acreditou?

– Sei lá…

Sei lá por que um cara que supostamente me conhece tão bem consegue conceber essa cena: eu, sentada na frente do meu computador, escrevendo um e-mail para a namorada dele. Sei lá por que a namorada dele inventou isso. Sei lá por que uma mulher de trinta e tantos anos age dessa forma. Sei lá como arruma tempo pra esse tipo de coisa. Sei lá.

Só sei que depois de pensar, pensar e não chegar a nenhuma conclusão, me senti no direito de inventar, eu mesma, uma razão.

Ontem eu escrevi no meu twitter que eu ainda tenho mil histórias para contar e um milhão para inventar. Ela também tem as dela. Todos temos. E, algumas dessas histórias que temos pra contar têm de ser invenção mesmo, porque assim ficam mais interessantes. Não importa a razão, não importa o que te faz querer contar uma história que não aconteceu, não importa que pensem que você é um mentiroso. Desde que seja uma mentira inocente, que não prejudique a ninguém e te faça qualquer bem, fantasie. Não faz mal se te faz bem.

Meu telefone tocou e era a minha mãe perguntando se eu ia mesmo ficar em casa na véspera do feriado. Eu disse que sim porque pretendia acordar cedo para comprar uma baguete no bistrô da esquina, já que aqui nesse hotel servem um pão dormido, e como eu estou em Paris, por que não comprar eu mesma meu pão francês fresquinho e sair carregando-o debaixo do braço como fazem as mulheres chiques daqui? Merci, mamãe, ficarei aqui mesmo e amanhã te enviarei um postal lindo da cidade.

Por sorte mamãe estava com meu sobrinho no colo fazendo uma algazarra danada e ela mal conseguia entender o que eu falava: “o que você tá dizendo, menina?”

“Nada não, mãe…” – eu respondi, rindo. Nos despedimos e eu desliguei o telefone sentindo uma vontade tão grande de acordar em Paris que, se não fosse pela falta de grana, eu teria comprado as passagens imediatamente e, a essa altura, já estaria a caminho da cidade luz.

Às vezes vocês não imaginam coisas estúpidas, tristes ou divertidas? Vez ou outra não sentem saudade daquilo que nunca viveram? Pois. Eu sim. De quando em quando fecho os olhos e visualizo cenas inteiras, com detalhes (incluindo os sórdidos). É como se eu visitasse universos paralelos e, nesses universos eu sou autora, roteirista, diretora e atriz. E nos meus filmes acontecem coisas das mais extraordinárias às mais triviais. Das mais improváveis às mais possíveis.

Vou de um hotel em Paris à porta da minha geladeira. Imagino de uma conversa franca com Deus a um telefonema de trabalho. Invento que sou rica e fico imaginando que loucura deve ser a vida na classe média. Eu invento situações para testar emoções. É como provar o sabor das possibilidades.

Nunca inventei receber e-mail de ex-namorada de nenhum namorado meu, não. Pelo menos não até hoje, mas agora compreendo quem precisa inventar. Quem alimenta a imaginação não morre de tédio.

E eu, que não enviei nada, provocada por um e-mail imaginário, fiz melhor: escrevi um texto.

Agora eu preciso ir porque o dia amanhece e o cheiro da baguete fresquinha tá invadindo o meu quarto. Querem alguma coisa de Paris?

Roberta Simoni

Somos mais.

No primeiro sonho eu usava um vestido tomara-que-caia branco, dançava e ria numa festa que acontecia no seu apartamento, que era o único que parmanecia intacto sobre a estrutura de um prédio em pleno desmoronamento. No segundo sonho o cenário era uma festa de gente elegante, e, segundo você, eu estava deslumbrante, num vestido escuro de veludo, que você não sabe se era verde musgo, azul marinho ou preto, tinha um decote bem cavado nas costas, minha cabeleira quase toda presa, com alguns cachos soltos, brincos enormes e brilhantes, uma gargantilha combinando, e eu sorria tanto, mas tanto… e girava e girava…

Eu era quase tão escandalosamente feliz quanto uma gargalhada. E você ficava em estado de êxtase puro, enquanto sonhava e, depois ainda, quando acordava.

Seu corpo que ainda teima em girar com o meu, feito criança que gosta da brincadeira e não quer nunca mais parar. Meu corpo que reage com gargalhadas gostosas e falta de ar. De olhos fechados, dá a impressão de que os nossos pés vão sair do chão e alçar vôo a qualquer instante. E a gente brinca. Brinca que a vida é uma festa, no seu apartamento entre ruínas, na minha cabana, numa festa de granfinos com brilhantes que ninguém diria que são falsos, ou na padaria da esquina, comendo o melhor pão com manteiga que existe.

Fico tonta, mas você continua a me rodar. Tenho medo, mas não dá vontade de parar. Você diz que não cabe dentro de tanta felicidade, e me falta fôlego para te responder que você é maior do que pode imaginar. O lustre do teto do quarto ainda está rodando, meu corpo está imóvel e silencioso, coberto com um tecido macio que não é o vestido de veludo do seu sonho, é só o lençol da minha cama que me envolve enquanto assisto aquelas duas criaturas divinas dançando, rodando e rindo alto, sem parar. O lustre cai, o teto some, e só o que existe é o céu da gente.

Que ousadia sua achar que eu existo além dos seus sonhos. E corajosa de mim acreditar que você é real. Não somos palpáveis. Somos mais.

Roberta Simoni

Em dias de fantasia

É verdade que às vezes eu me tranco num casulo de preocupações e aborrecimentos, esqueço da minha promessa de carnaval e visto a fantasia da realidade involuntariamente.

É verdade que grandes mudanças estão para acontecer. É verdade que eu preciso tomar decisões difíceis.

E a verdade maior de todas é que, mais do que nunca – ou mais do que sempre – eu serei chamada de louca, maluca, doida varrida… tudo muito familiar pra mim (e isso também é verdade).

E pensando nas minhas loucuras voluntárias e ainda não anunciadas, eu me aproveitei do carnaval para vestir a minha fantasia insana sem ser taxada de maluca. Porque no carnaval, tudo pode. Tudo é festa. E toda insanidade é perdoada.

… E acabei indo parar na página da Uol.

Na legenda: “Roberta Simoni se diverte no bloco das Carmelitas, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro.”

E depois na página da IG:

“Cariocas e estrangeiros se misturaram no bloco, com fantasias criativas como um dominó humano.”

E até no O Globo:

Isso porque eu não tive metade da energia desse povo aí para ir atrás dos blocos todos os dias. E se alguém estivesse lá escondido, tava era lascado, porque nem o RJ TV e o Jornal Hoje nos deixaram passar batidos. Evaristo que o diga… 😀

“Betaaaaaaaa, acabei de te ver na Globo, pulei aqui na frente da tevê: é ela, é ela, é ela!” (minha irmã, ao telefone, empolgada com meus 5 segundos de estrelato, vestida de peça de dominó… uó!).

Mas gente… eu juro: não vou deixar a fama subir à cabeça. =P

O carnaval termina hoje e eu ainda estou pensando se visto ou não aquela fantasia desbotada e ordinária da realidade.

A loucura me cai tão bem, afinal.

Vai dizer que não? 😉

Roberta Simoni

A fantasia desbotada da Realidade

Se neste país o ano só começa depois do carnaval, e de fato tudo na minha vida parece só querer começar a acontecer depois da quarta-feira de cinzas próxima, tudo bem. Se o Brasil para, eu paro junto. Aqui a gente dança conforme a música, ou no batuque do samba.

Ouvi uma frase do amigo Gabriel que ficou ecoando na minha cabeça hoje: “A minha fantasia é a realidade.”. Achei linda. Daria um belíssimo texto se eu não estivesse vestindo a fantasia da realidade às avessas.

Neste carnaval, “A minha realidade é a fantasia”. E o meu lado “mulherzinha” se sente profundamente ofendido de repetir a mesma roupa por tantos dias consecutivos e eu já começo a enjoar desse uniforme. Então tá decidido: guardo a realidade no fundo do armário (ou, no meu caso, no fundo da mala) e só volto a vestir depois do carnaval. Pronto.

Se o que é real, palpável e concreto não é colorido o suficiente, o carnaval taí pra isso: descombinar as cores, misturar as estampas, desordenar a rotina, esticar os prazos e adiar os compromissos inadiáveis.

Eu quero listras com bolinhas, cores estampadas num tecido prateado de lantejoulas douradas. Quero a cor púrpura das paixões no meu cabelo, embaraçado com confetes e serpentinas. Quero o brilho do suor da minha pele se confundindo com a purpurina.

As máscaras? Quero todas possíveis. Menos a minha de todo dia.

E, por favor, abram alas, que eu quero passar… ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪

Quem vem comigo?

(a foto eu tirei daqui óh!)

Roberta Simoni

Eu gosto e assumo!

Olá, eu me chamo Roberta, mais conhecida como Beta, tenho 24 anos, sou jornalista, e adoro assistir As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy.

Eu sei. Isso choca. Eu sou um paradoxo vivo, nada compatível comigo mesma, absolutamente idiossincrática. Um dia escrevo um texto sobre as minhas emoções, e no dia seguinte falo sobre desenhos animados.

Estava comentando com uma amiga o quanto adoro esse desenho e ela comentou – “Sei qual é, meu filho também adora!”. Vale ressaltar que o filho dela tem apenas 5 anos. Depois dessa, qualquer coisa que eu falasse em defesa própria seria em vão.

Há muito tempo eu vinha reclamando dos desenhos animados modernos, que são chatos, que não se comparam aos desenhos que eu assistia na minha época (ô expressãozinha mais antiga, deixa claro que se trata de alguém ultrapassado). Vai ver eu deixei de gostar de desenhos animados porque a minha infância ficou pra trás faz tempo, e esqueceram de me comunicar. É apenas uma possibilidade.

Por isso que eu digo que quando nos tornamos adultos, deixamos de ver graça em muitas coisas que nos arrancava gargalhadas quando éramos crianças. Ao entrarmos para a vida adulta, juntamos nossas trouxas e abandonamos de vez o mundo da fantasia, e aí tudo perde um pouco do encanto e da magia. 

Mas, para a minha alegria infantil, um gênio criou esses personagens fantásticos e autênticos: uma garotinha homicida linda, chamada Mendy, loirinha, sem nariz, inteligente e autêntica, que não sente medo nem amor, e nunca sorriu na vida, um garotinho chamado Billy, que provavelmente nasceu anencefálico (sem cérebro), dono de um imenso nariz com poderes regenerativos, e juntos, eles conseguiriam escravizar o Puro-Osso, a morte em pessoa.

Para quem não conhece o desenho, dá para ter uma vaga noção do que se trata assistindo o vídeo abaixo. Divirtam-se !!!

Roberta Simoni