Eu faço drama. Olhando assim, nem parece, mas eu perco facinho o tesão na interação com quem não fala comigo na moral, na moralzinha. Detectei modulação no tom de voz, comunicação de textura áspera, palavras com camadas espessas? Parei, na hora. Não entro numa. Como boa carangueija que sou, reajo me fechando na concha. Meus pais me ensinaram a tratar todo mundo com a maior finesse e se não rola reciprocidade no trato, cabô o papo. Mas me garantiram que isso é fazer drama. O certo mesmo é ficar de boa com quem não é cauteloso com o jeito de falar com os outros. O problema é a hipersensibilidade do receptor, e não a falta de tato do transmissor da mensagem.
O mundo tá tentando me convencer que ser sensível é um defeito, e, depois de refletir muito a respeito, eu conclui que a sensibilidade só é considerada uma falha por aqueles que não possuem o mesmo traço na personalidade. Ser sensível também não é qualidade, é apenas uma característica de quem é receptivo à impressões sensoriais.
Um diálogo entre dois sensíveis se dá assim: ambos são empáticos aos sentimentos compartilhados. Um diálogo entre opostos normalmente termina com o insensível achando o sensível melindroso ou dramático demais e o sensível decidindo que o seu interlocutor foi indelicado. Agora, uma conversa entre dois insensíveis, não sei bem como funciona, pois não tenho parte nisso, mas deve ser bem mais prática. Ou mais perigosa.
Eu tive um chefe que me disse que tinha que ter muito cuidado com a forma como falava comigo porque percebeu que eu era “sensível demais”. Eu respondi que, na verdade, ele tinha que medir as palavras comigo porque eu era forte o suficiente para reagir às grosserias dele e não admitia ser desrespeitada. Pelo menos ali, naquela ocasião, as definições de sensibilidade foram atualizadas com sucesso.
As pessoas, sobretudo os homens, confundem sensibilidade com fragilidade. A verdade é que quanto mais sensível você é, mais te consideram difícil de conviver, não só porque você tem uma reação pra tudo (boa ou ruim), mas porque elas têm que pensar duas vezes antes de falar, porque precisam ponderar e medir as palavras antes de cuspi-las. Mais do que chato, isso é trabalhoso demais. E ninguém quer ter trabalho. Manutenção de qualquer tipo de relação despende muita energia.
Eu sou intolerante à desrespeito, ingratidão e lactose, mas até agora só descobri como evitar o leite mesmo. Os outros ainda me causam uma baita indigestão.
“Quanto mimimi!” – quase posso ouvir o pensamento de um insensível enquanto lê esse texto.
Sabe qual é a tradução para “mimimi”? Tudo aquilo que dói no outro e não afeta você é mimimi.
Cê num imagina a vergonha que eu tenho de lembrar que eu já chamei de mimimi (e ainda fiz vozinha irônica e careta na hora de falar) os dilemas alheios, até entender que têm coisas que doem mais nos outros do que em mim e vice-versa. Eu também já cometi a indelicadeza de dimensionar o problema do outro comparando ao meu. Esse erro eu ainda preciso me vigiar pra não cometer quando me distraio.
Sabe quando eu sou bem dramática? Na hora de ir ao supermercado porque pra acho essa função um suplício, ou pra ir pro médico, mesmo quando eu tô cheia de dor. Faço drama pra ligar pra operadora do celular, do cartão de crédito ou pra qualquer tipo de estabelecimento. Transformo a maioria das ações práticas do dia a dia em um bicho de sete cabeças. Sou péssima com burocracias e pra lidar com pessoas – pasme! – insensíveis. Vivo dizendo que “a morte é mais suave” do que ter que fazer qualquer uma dessas tarefas. Drama Queen. Tem nem como me defender. Agora, quando eu estou falando sobre aquilo que estou sentindo, não chama de drama, não.
E já que eu tô pistola, vou mandar um recado: é melhor pensar bem antes de reduzir o que eu sinto ou invalidar o que eu digo me “acusando” de ser canceriana. Senão, senão… eu vou chorar, rsrs.
Brincadeira! Eu só vou mandar você se foder mesmo (ainda bem que você não vai se ofender, porque ofensa é coisa de gente dramática, né?!)
Roberta Simoni