Das aparências

Pareço legal, mas sou invocada… esse meu péssimo hábito de ser simpática tira completamente a minha credibilidade.

Pareço uma pessoa tolerante, mas fico irritada com gente lerda andando à minha frente numa calçada apertada; não me conformo em ter que desviar da fumaça de um fumante na rua; tenho vontade de passar por cima de motorista que não passa dos 40km por hora na pista da esquerda; não consigo entender o que leva as pessoas a ocuparem o espaço central da escada rolante na saída do metrô enquanto poderiam se manter em um dos lados para liberar a passagem. Em suma: sofro de um altíssimo grau de intolerância para situações que passam despercebidas para a maioria das pessoas. Sorte a delas. Azar o meu por elas manterem desativado o botãozinho do bom senso.

Pareço uma típica carioca da gema, mas às vezes não suporto a zona da minha cidade. Pareço uma brasileira feliz, mas pelo menos uma vez por dia eu penso em me mudar pra outro canto do mundo onde o básico funcione. Isso sem falar na vontade constante de voltar pro meu planeta…

Quem me vê por aí sorrindo, cheia de dentes, nem imagina que eu rodo a baiana quando me sinto injustiçada; que eu viro uma leoa para defender os meus; que eu sou dona de uma sinceridade quase insultante e que crio climão para não sofrer de indigestão ou não morrer entalada.

Pareço auto-suficiente, mas me peguei sentindo falta da minha mãe me mandando calçar o chinelo para não me machucar com os cacos de vidro do copo que acabei de quebrar, e quase chorei de raiva porque o papel higiênico acabou e eu não tive ninguém além de mim mesma para acusar de não ter ido ao supermercado.

Pareço altamente sociável, mas se me observarem bem de perto, sou meio autista.  Pareço também uma infinidade de coisas que, de fato, sou. E tô aqui para provar que o clichê “de perto ninguém é normal” procede. E se de longe tem gente que até engana, esse não é o meu caso, como podem ver…

Roberta Simoni

23 comentários sobre “Das aparências

  1. Como você imaginou (e imaginou bem!) adorei o texto.

    Agora, você enunciou lindamente uma das Grandes Verdades sobre Roberta Simoni lindamente, a saber: “(…)esse meu péssimo hábito de ser simpática tira completamente a minha credibilidade.”

    Fato.

    Se bem que eu tb ando sofrendo disso nesses últimos dias: basta um único arroubo fofinho para toda uma reputação de ogra sem coração escoar ralo abaixo.

    Mas não há de ser nada, e ainda palitarei meus dentes com as carcaças miguxas que hoje querem ser minhas Bff’s.

    (O problema de ter virado sua amiga, Roberta Simoni, é que meus comentários migram do “ao vivo” para o wordpress e, de tão auto-referenciais e cheios de piadas internas, deixam de fazer sentido).

    Eu disse problema?

    Problema nada, melhor assim.

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  2. Você relatou tudo que um dia eu tinha vontade de dizer!!!
    Parabéns de novo,e se gosto de você é pq é um ser normal, pq para mim isso é normalidade, as outras pessoas que vivem no mundo de mentira, que são felizes e simpáticas a toda hora, essas sim são anormais e cansam.
    Ninguém admite, mas não é meio chato lidar com aquelas pessoas super legais, simpáticas, boazinhas,corretas e sempre tolerantes?? Vamos dizer que um pouco de intolerância, pessimismo, mau humor e desequilibrio é super necessário para ser uma pessoa normal e de bem com a vida!!!
    Atualmente esse tipo de pessoa me cansa em muito pouco tempo. Já fui bem mais tolerante na minha vida, no tempo em que era mais resistente,mas … a idade, entre outras coisas, nos dá sabedoria e nos tira a paciência e isso as vezes é bom.
    Bjos

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  3. Parabéns pelo texto. Como eu já te disse, seus textos estão cada vez melhores.

    Quanto à rabugice em questão, só quem já dividiu a vida com você para entender exatamente o que você quer dizer. 😉 Coitados dos gripados que insistem em tossir nos cinemas, né?

    Mas é essa normalidade que te faz maravilhosa! Simpatia demais enjoa.

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  4. Sabe que é a segunda vez que passo por aqui, e estou adorando a leitura! Esse texto me obrigou a deixar um comentário, por este simples fato: “Nossa, eu me pareço muito contigo!” (nessa descriçao da postagem, claro 🙂
    Vou continuar ti visitando 🙂
    Encantada, Fabi

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    • Vem passar uns dias comigo que te dou umas aulas, Line.
      Você nem vai precisar fazer nada, basta andar comigo e ver como essa coisa toda funciona na prática. Só tente não me odiar depois do que irá assistir, combinado?

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  5. Beta,
    Eu ando impressionada com minha capacidade de me identificar e gostar das pessoas que não conheço.
    Não que eu não te conheça, ainda mas depois desse post. Mas é que me sinto tão frágil por gostar tanto de alguém assim… de graça.
    Abraços
    C

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  6. Hoje eu tolero apenas o que é possível. Por exemplo, ler somente o que me interessa, num mundo virtual cada vez mais inchado de tanta bobagem e propagandas de todos os tipos e lados…sei que também não sou nada normal e me sinto ótima sendo assim! Bj, Beta!

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  7. Amiga,
    resolvi fazer um blog sobre futebol e fiz o wordpress por que já conhecia o seu. Porém, eu tô com muita dificuldade pra usa-lo. Achei super difícil, mas vou tentar continuar por que acho que pode ser legal pra profissão. Quero que saiba que sempre venho aqui saber um pouco de você. A minha mãe agora tem um TIM, preciso do teu número, manda pro meu e-mail.
    Beijos

    Te amo

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  8. rá!
    tanto de mim ai no teu texto q acho q nesse outro planeta, somos parentes!

    ser um ser contraditório dá trabalho né? afinal também tenho essa fama de simpática quebra barraco, e no fim acho que acabo confundindo as pessoas!

    ADOREI, como sempre!

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