Mando notícias do lado de cá…

Aqui onde eu estou o inverno já se anuncia, mas eu não saberia o que é frio de verdade se nunca tivesse saído do lugar. O bom é que eu descobri que eu gosto mesmo é do frio que faz bem aqui, porque não me congela, mas me aconchega e torna cada vez maior o meu amor pela minha cama, tanto que meu edredom e eu nunca estivemos tão bem como agora. Vou demorar para sentir saudades do verão desta vez, na verdade, já não sinto mais saudades das estações, aproveito o que cada uma tem de bom e convivo com a maravilhosa certeza de que elas voltarão no próximo ano. Não posso dizer o mesmo da saudade dos amigos que uma estação me trouxe e e outra levou. Esses eu nunca sei quando – e se – voltarão, e cada vez menos consigo conviver com a incerteza de findar uma ausência ou de sanar uma saudade.

Você tem razão. É sempre saudável mudar a perspectiva. Eu queria poder viajar mais à procura de novos ângulos, não só para fotografar, mas para enxergar a vida. Ah… como seria bom viver na Europa, por exemplo. Um bilhete de trem e pronto, você está num país diferente, alimentando o olhar de comida boa! Mas aqui não há trens para países vizinhos, não há um mês que me sobre algum cobre para comprar passagens aéreas, minhas jóias são de plástico e embora minhas bijuterias se pareçam cada vez mais com cobre, não servem como moeda de barganha, infelizmente.

Estando tudo custando os olhos da cara, pus os meus a admirarem a nova-velha vizinhança e por ora eles têm se dado por satisfeitos. O mais interessante é que mesmo morando nesse bairro pela terceira vez, a cada dia descubro coisas novas. Achei um sapateiro ótimo na esquina da minha casa e quase não acreditei quando, ao perguntar há quanto tempo a loja existia, o dono – um senhor muito simpático – me respondeu que o negócio já tinha mais de 30 anos. E eu, durante todo esse tempo, jogando fora meus sapatos escangalhados. Parece que alguém aqui andou distraída e esquecendo que para quase tudo há conserto…

Tenho aproveitado o parque mais do que nunca, especialmente agora no outono, quando há mais folhas secas espalhadas pelo gramado. Te garanto que você nunca conhecerá alguém que sinta mais prazer de pisar em folhas secas do que eu.

A vida, como te falei, não anda lá muito leve. Mas quem disse que ia ser fácil, não é? Se eu quisesse moleza, sentava no pudim, mas isso sujaria toda a minha roupa e eu estou sem máquina de lavar, além do mais, eu acabaria por comer o pudim todo, como você já deve calcular depois de ter tido aqueles chandelles desaparecidos da sua geladeira quanto te fiz uma sorrateira visita.

Aquelas antigas metas das quais conversamos tantas vezes permanecem na forma original: ainda não passam de metas. E o pior é que eu aumentei a minha coleção de sonhos nesse meio tempo, eu não tomo jeito… você, canceriano como eu, será que conseguiria me ajudar a resolver essa equação: como idealizar menos e realizar mais? Se você já tiver descoberto a solução pra isso, por favor, me ensina. Posso te pagar com aquelas minhas bijuterias, caso você ainda não tenha comprado o presente de Dia dos Namorados para sua namorada…

No mais, eu tenho pensado bastante sobre auto-conhecimento, e como você sabe, pensar não significa necessariamente realizar, especialmente quando estamos falando de mim. Mas eu juro que tô tentando. Tenho me observado na tentativa de me conhecer melhor ou de me conhecer outra vez. Eu, termômetro que sou, mudo conforme o clima e a temperatura. Mudo tanto quanto a previsão do tempo e o próprio tempo que esfria e esquenta e não me ajuda a decidir se devo levar o guarda-chuva, que roupa devo usar ou que humor vestir… mas se o tempo fecha, luto contra o Muttley que existe dentro de mim e não resmungo pela falta de sol ou reclamo pela chuva fora de hora que, provavelmente, foi coisa do Dick Vigarista. Eu compreendo as condições climáticas como um amigo entende o outro. Eu termômetro, aceito a temperatura que vier.

E a temperatura de agora é apropriada para tomar “uns bons drink” (como faz a formidável Luisa Marilac!) e eu confesso que tenho tomado mais vinho do que o Ministério da Saúde recomenda. No dia que você resolver aparecer, por favor, traga uma garrafa. E se não quiser beber num copo de requeijão, traga também a taça.

Um beijo,

B.

Roberta Simoni