Minha vida não é mais a mesma desde o último domingo, quando, durante uma trilha no alto da Serra, eu caminhava feliz e faceira, admirando as árvores, sentindo o cheiro da vegetação, curtindo o clima ameno de outono, acabei me empolgando com essa coisa toda de contato com a natureza e comecei a cantarolar umas músicas (quase a Chapeuzinho Vermelho, só que não), entre elas, um clássico do Cazuza me veio à cabeça e eu, inspiradíssima, tratei de cantar para o meu namorado, que seguia comigo na trilha:
“(…) Você tem exatamente três mil horas pra parar de me beijar. Hum… meu bem, você tem tudo, tudo pra me conquistar…”
Retribuindo minha singela declaração de amor, ele responde:
“Quero viver um milhão de horas com você…”
Silêncio na trilha.
Confuso com aquele silêncio repentino, ele me pergunta se disse alguma coisa errada e eu, me sentindo ligeiramente rejeitada, respondo: “só um milhão de horas, é???”
“Mas, Beta, um milhão de horas é mais do que uma vida inteira. Isso dá mais de 100 anos. A gente vive, em média, umas 600 mil horas.”
Oi? Momento Maysa: “Meu muuuuuundo caiu!“
Perplexa e chocada com essa nova perspectiva de contagem do tempo, passei o resto da trilha cheia de questionamentos profundos e filosóficos sobre a efemeridade da vida, o tempo que me resta e blá blá blá. Questionamentos esses que eu trouxe para casa, para cama e agora para o blog.
(Pausa para duas informações relevantes e esclarecedoras: 1- só é capaz de se chocar com tal perspectiva quem, assim como eu, não tem a m-e-n-o-r noção de matemática lógica e não é capaz de fazer pequenos cálculos mentalmente, o que dirá lidar com números de maior escala. 2- Ficar de recuperação nas disciplinas de ciências exatas foi algo recorrente na minha vida e isso, certamente, deve significar alguma coisa.)
Pelos meus cálculos (mentira, os cálculos são desse site aqui) eu vivi até agora 252.408 horas. Se a expectativa de vida de um ser humano é de 600.000 horas, isso significa que eu já gastei quase a metade do meu cartucho. E, com sorte – se nenhum raio cair na minha cabeça ou qualquer tragédia de outra natureza não me atingir até lá – me restam, em média, umas 340.000 horas de vida.
Só eu acho muito mais assustador encarar o tempo por esse prisma?
Quantas horas eu já não devo ter perdido entediada? Quantas vezes eu já fiquei contando os segundos para o dia acabar? Quantos dias eu já passei na companhia da Laura (minha habitual depressão)? Quanto tempo eu já gastei (e ainda vou gastar) me alienando diante de uma tela (de televisão ou computador)?
De repente, cada minuto desperdiçado começou a parecer uma falta gravíssima, quase uma ofensa.
Em contrapartida, numa conversa que tive hoje com a Gabs sobre “a vida, o universo e tudo mais”, ela me alertou para a existência de um artigo de engenharia genética, que diz que num futuro próximo, talvez seja possível viver 800 anos. Cruzes! Pra quê tanto? Dispenso.
Enquanto isso, a água do miojo fervia e eu, à beira do fogão, continuei tentando fazer contas: se já tem quase 10 anos que eu moro sozinha e nessa década de vida eu já devo ter ingerido muito mais miojos do que meu estômago supõe, imagina isso multiplicado por 80?
Ah não… não quero passar 800 anos comendo macarrão instantâneo, não!
A verdade é que imaginar que a vida pode ser mais longa do que o previsto me assusta bem mais do que ter a noção de que falta “pouco” para acabar.
Ainda mais aterrorizante do que passar centenas de anos vivendo de miojo foi pensar em quantas vezes seria preciso ir ao dentista nesse período. Nas últimas semanas eu venho lidando com o pavor de encarar o dentista para extrair um siso que vem me tirando noites e noites de sono (se houverem dentistas lendo isso agora, me perdoem, não é nada pessoal, eu só tenho muito, muito medo de vocês. E de sentar na cadeira do consultório de vocês. E do barulhinho que fazem essas ferramentas de tortura que vocês usam na boca da gente). Horror é a palavra. Horror!
Conclusão: diante de um medo tão paralisador (e injustificável, eu sei), é capaz de eu ter uma crise de pânico até amanhã, quando a cirurgia no “torturador” está marcada. Também é provável que a minha gastrite piore consideravelmente se eu continuar me alimentando mal desse jeito, com a velha desculpa do excesso de trabalho não me permitir ter uma alimentação saudável.
Sendo assim, se eu chegar aos 30 já tô no lucro, né não? 🙂
Dramática? Eu???
Roberta Simoni
Amiga… eu ri alto aqui, juro…
AMO-TE!!! 🙂
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Amiga, dê uma variada de vez em quando e coma um cup noodles… rs Quanto ao tempo, o lance é o seguinte: contar o tempo feliz em segundos e o tempo “chato” em décadas… Dói menos!
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Hum, medir as horas quando não respiramos…
Boa…
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Haha… a gente reflete e se diverte! Parabéns! 😉
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Pelamor, não passe para os CUP NOODLES! Eles devem extrair muito mais minutos do que os miojos!!!!
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Uma coisa é certa: ler esse post não foi perda de tempo. Achei ótimo.
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