La Dolce Vita

Uma obra de Maria Rachel

Dez horas de viagem depois, o monitor em frente ao meu assento indica que estamos cruzando o Oceano Atlântico… sinto uma euforia misturada com medo, daí escrevo.

– Mas, por que a Itália, Beta?

Por que as pessoas precisam de uma justificativa lógica para tudo? Das poucas pessoas para quem eu contei que estava vindo para a Itália, conto nos dedos de uma única mão as que me fizeram essa pergunta cretina. Foi por essa razão que eu resolvi contar para tão poucos, só aqueles que não precisam de perguntas para saberem as respostas. Eles simplesmente entendem.

– Porque é o meu sonho, respondo.

Isso já é mais do que um bom motivo par me fazer atravessar o oceano suportando três garotinhas barulhentas, que não negam serem italianas. Mas existe uma dezena de outras razões existenciais, profissionais, pessoais, familiares, racionais e emocionais que me fizeram vir parar aqui, das quais compartilho só com quem não precisa me perguntar “mas por que?”…

Nos últimos dias eu descobri muito sobre a verdadeira Itália, sobre o verdadeiro espírito de viajante e, principalmente, sobre a verdadeira medrosa cheia de coragem que sou.

Coragem não só de vir pra cá no susto, sem a menor infra, com o dinheiro contado e sendo obrigada a ouvir piadinhas como: “ganhou na loteria?”, “arrumou um namorado rico?”. Respondo: não, trabalhei mesmo!

As pessoas se acostumam a ver você se ferrando tanto, trabalhando a vida toda feito condenado que pensam que você está condicionado a passar a vida inteira assim. Não, eu não quero acreditar que a vida seja só levar na bunda. E a vida não é. Não pode ser. Mas, se for, que seja na Itália. Ah… como eu amo a Itália!

Dio mio! Mas como é difícil viajar sozinha sem dominar o inglês e tendo pouca ou – como descobri ao chegar aqui – quase nenhuma noção do italiano. Continuo matando um leão por dia aqui, mas um leão italiano (tá, meu bem?). A superação está desde em conseguir me orientar para chegar no hostel das cidades onde me hospedo até perguntar – e conseguir entender – onde encontro a manteiga de cacau na prateleira da farmácia. Pois. Hoje mal consigo rir porque minha boca está toda estourada com o frio, mas desenvolvi uma forma de rir internamente, inclusive de mim mesma, levando meia hora para encontrar o meu hostel em Roma, que ficava a 3 minutos da estação de trem onde eu estava.

Arrumei um mapa e descobri que estava a 5 minutos do Coliseu, mas mesmo com o mapa, me perdi. Na próxima vida eu preciso vir com algum senso de direção porque nessa vida não tá funcionando muito bem querer ser viajante do mundo sem perceber que estou virando à direita quando o mapa indica o lado esquerdo.

Sei que, de repente, dei de cara com ele: o Coliseu. Fiquei com os olhos marejados. Não só pela lindeza de tamanha dimensão daquela obra arquitetônica, mas porque ali, naquele momento, começava a minha viagem.

Me perdi ainda muitas vezes e vou me perder mais outras tantas, mas nessa brincadeira descobri o verdadeiro sentido da frase: “perder-se também é caminho.”

Entre uma rua e outra, entre o Coliseu e a Fontana di Trevi, a gargalhada gostosa de um italiano igualmente gostoso, a expressão irritadiça da recepcionista ao não conseguir entender o que eu tento dizer, “Madonna Mia”, entre todos os detalhes, os sabores, as sensações… eu estou descobrindo a Itália, com as massas mais incríveis que já provei na vida e os sorvetes de nutella que são verdadeiros insultos. Ah… eu amo a Itália! Eu já disse isso?

Encarar esse tipo de aventura sozinha é lidar constantemente com a sensação de absoluta liberdade, o que é maravilhoso e, ao mesmo tempo, assustador. O lindo é que cada passo que os meus pés dão nessa terra que eles nunca pisaram antes, parece magia pura. Até quando eu me perco, eu me acho.

Agora que já descobri o verdadeiro sentido de “La Dolce Vita” vou tratar de aprender na prática como funciona essa coisa de “Dolce Far Niente”, que os italianos fazem com tanta maestria, ah vou…

E o meu trem parte para Firenze em 10 minutos…

Roberta Simoni

17 comentários sobre “La Dolce Vita

  1. Amiga, vc tá super a “vivere il sogno” (“vivendo o sonho” segundo o Google Tradutor!)

    E traz QQ PORCARIA PRA MIM!!! Por favor! Por favor!!!! NÃO QUERO NADA COMPRADO!!!! Quando vc estiver num lugar bem lindo, vc PROCURA UMA PEDRINHA E ME TRAZ! (É sério!!!! Da Grécia tenho duas do Partenon e ainda trouxe ÁGUA do Mediterrâneo!!!!)

    Só não vale me enganar, hein! Tipo… “ah, cato qq sujeira lá no Rio e dou pra louca”.

    BACIO!!!!!

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  2. Os sonhos movem a vida, Beta!
    Parabéns pela coragem. Parabens por fazer do seu sonho realidade.
    Torço por vc e desejo que seja muito feliz, sempre!
    Um abraço bem apertado de vó

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  3. Hahahahaha! Que coisa linda!

    Daqui de trás desse monitor sujo eu consegui ver o brilho dos seus olhos e ouvir a sua gargalhada interna!

    Eu adoro te ver assim!

    Depois q vc tiver “comido” bastante, pare um pouquinho para “rezar” e depois volta ao Brasil para “amar”…rs

    Bjs (só vc sabe onde) e que seu sorriso nunca mais perca esse brilho!

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  4. Você é completa e irremediavelmente louca. E é exatamente por isso que eu te amo tanto!

    Volta com suas histórias e aquele brilho no olhar que só você tem pra contá-las! Ler você é maravilhoso, mas te ouvir contar ao vivo é indescritível!

    Mil beijocas!

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  5. MEGA MARAVILHA BETA !!

    DESEJO QUE VC:

    SE DIVIRTA A BEÇA !!
    BEBA MUITO VINHO. ( mas não caias tá legal ?)
    COMA MUITA MASSA !
    CONHEÇA PESSOAS MARAVILHOSAS QUE NEM VC.
    CURTA, SE SURGIR, UM ROMANCE !!

    COMO DIZ O REI DAS COPAS, COMER, REZAR E AMAR !! AMAR PODE SER TAMBEM POR ÁI HORAS BOLAS, PODE NEM SER COM UM ITALIANO, QUE GERALMENTE SÃO BONITÕES, CONFIRA ÁI PRA NÓS BETA SE SÃO MESMO , HOMENS COM H, TU SABES, ( desc. a cx alta )

    quem assistiu ou leu Comer, Rezar , Amar, sonha mesmo em conhecer a ITalia.

    abraço.

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  6. não lembro se perguntei “por q a Itália?” no dia q tu me contou q tinha comprado a passagem, afinal era um dia em q eu estava pilhada – minha 1a. vez no Rio e minha 1a. vez com a Beta ao vivo e em cores, imagina!
    mas me lembro de depois q saímos de lá. eu tão feliz. e lembro da admiração q fez até eu comentar com o Ju sobre essa história da viagem, afinal tu não era só a menina maluquinha q eu imaginava. ao vivo, tu era alguém capaz de largar tudo pra ir atrás de um sonho.

    fico feliz q tu tenga ido. feliz q tu tenha voltado. feliz q no mundo exista pessoas como tu, disposta a sair por ai mesmo q batendo cabeça (sim, eu li o outro post!). ah Beta, se tu existisse ia ser um baita desperdício de criatividade no mundo!

    beiJu

    PS eu já tinha tentado comentar antes, mas a internet sacaneou e perdeu meu comentário, isso já umas 3 ou 4 vezes!

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