O preço da independência feminina

Mulheres Independentes

A maioria das mulheres solteiras que eu conheço possuem uma característica em comum: são independentes. E isso é uma coisa que me intriga há muito tempo mas só agora resolvi trazer à tona. Não só porque é um assunto delicado, que mexe com o movimento feminista e toca na ferida dos machistas mas, porque, acima de tudo, eu demorei muito tempo para entender – eu disse entender, não aceitar – que mulheres independentes sofrem preconceitos reais.

Há poucos dias uma amiga veio me contar, indignada, que estava saindo com um sujeito que, depois de alguns encontros, virou-se pra ela e disse: “eu jamais namoraria você… não dá para controlar uma mulher tão livre e independente assim.”. Comigo o mesmo já aconteceu, só que de maneira mais sutil e menos franca. O rapaz aí em questão assumiu seu machismo, coisa que, nos dias de hoje, a maioria dos homens disfarça ou mascara e nós só vamos descobrir que o bom moço por quem nos apaixonamos é um tremendo machista enrustido tempos depois, quando a parte racional do nosso cérebro já está seriamente comprometida.

Minha mãe sempre me disse que eu assusto os homens e eu sempre me assustei com essa afirmação tão enfática dela. E inconformada, questionava, “mas, por que isso, mãe?”. A resposta é simples e mesmo assim, meia volta eu preciso que ela desenhe novamente para mim, especialmente quando saio frustada das minhas relações.

Aos 13 anos de idade comecei a trabalhar e a ganhar meu próprio dinheiro. Aos 18, saí de casa e fui morar em outra cidade, sozinha. Trabalhei, estudei, estagiei, viajei e paguei, sem a ajuda de ninguém, minha própria faculdade, minha carteira de motorista, meu aluguel e as calcinhas que visto. Em dez anos, morei em várias cidades, tive diversos endereços e atualmente moro sozinha num apartamento pequeno que cabe no meu orçamento de jornalista freelancer e, apesar de ainda ter um caminho longo a percorrer para realizar meus sonhos e objetivos, sou feliz na minha condição de mulher livre, contudo, hoje, perto de completar 30 anos, sinto o peso das minhas conquistas.

Isso mesmo, o peso. Nessa década de caminhada solitária em busca da minha realização pessoal e profissional me envolvi com homens que, em sua maioria, admiravam a minha postura mas que, no entanto, não seguraram o rojão de ter ao lado uma mulher que toma suas próprias decisões, que não pede permissão para ir ao bar com as amigas ou para viajar sozinha no fim de semana para se isolar e pensar um pouco na vida. Ao que parece, o fato de não sermos dependentes deles é um problema. Em contrapartida, nós, mulheres, não suportamos um companheiro emocionalmente dependente de nós, e isso não tem nada a ver com machismo ou feminismo, mas com amor, ou melhor, com a nossa forma de amar.

Mulheres independentes amam de forma diferente, amam de forma, digamos… independente. É como se, com as nossas atitudes, disséssemos assim para eles: “Olha, meu amor, eu te amo, mas precisar, precisar mesmo, eu preciso do meu trabalho, dos meus projetos, preciso me realizar, mas quero ter você ao meu lado em cada conquista. Você topa seguir de mãos dadas comigo?”. E eles entendem assim: “Querido, eu até gosto de você, mas como eu sou uma mulher livre e independente, eu saio por aí dando para quem eu quiser, tudo bem?”. E é claro, eles não aceitam, não entendem e se recusam a ter ao lado uma mulher cuja vida ela própria controla.

E o que temos é uma geração de mulheres bem-sucedidas, com carreiras cada vez mais sólidas e… sozinhas. Mulheres independentes dependentes de carinho, com um potencial surpreendente para amarem e serem amadas, mas que assustam tanto os homens com sua autossuficiência que acabam se vendo abrindo mão – não por escolha, mas por imposição subconsciente da sociedade – a não terem uma vida amorosa (só para esclarecer: eu tô falando de amor, não de sexo!) para continuarem conquistando seu espaço.

É claro que existem homens que não só não se importam como se orgulham e vibram por terem ao lado uma parceira com essas características mas eles estão em minoria. O machismo persiste e os homens ainda se sentem intimidados e inseguros com mulheres decididas e determinadas a serem, acima de tudo, plenas.

Da mesma forma que cabe a eles, cabe a nós também o desejo e a capacidade de desempenhar diversos papéis. Eu quero ser uma profissional reconhecida e bem remunerada, quero ser uma boa mãe e quero também ter um parceiro que não só compreenda como compartilhe dos mesmos desejos e vontades, inclusive da necessidade de distração e diversão nos intervalos disso tudo, seja individualmente ou em dupla. E, tenho certeza, não é querer demais.

Roberta Simoni

12 comentários sobre “O preço da independência feminina

    • Nãããããooo JAC !! Não perca a esperança querida !!
      pois justamente por nõa encontrarem mulheres ridiculamente inseguras e fracas é que muitos deles estõa se tornando, sim, se tornando, gays !!!! fugir do desafio da convivenncia é covardia humana , mas, infelizmenete parece moda. Eles estão confundindo as coisas, e estão generalizando a mulherada pela mulherada das telenovelas globais.
      vc vai encontrar um cara bacana, ainda existem muitos, mas vc nõa se bateu com sua carametade ainda, só isto.

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  1. Beta, Beta, Beta…disseste tudo, a mulherada não precisa ser feministamachista ( quase homem para mostrar que precisa ser respeitada como mulher) , mas os homnes precisam ser machistasfeministas para amenizarem esta condição de “Mim Tarzan”, e deixar a clave cavernal de lado. A mulher continua sendo companheira,ajudadora, apesar das cargas extras que voluntariamente ela carrega nas ultimas décadas, pelas quais ela deveria ser mais valorizada, mas a cegueira da maioria deles nõa os deixa reconhecer o grande sacrificio delas,direcionado em sua maioria pelo desejo de um futuro melhor pra ambos,uma ajudadora da familia sonhada, mas eles as enxergam como gladiadoras numa arena, onde um tem de vencer…nõa é brinquedo não. Boa sorte mulherada, a batalha é psicológica,e como sempre, muitas vezes sem lógica. Mas nõa desistam.

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    • Rogerio, vc que é da minoria, achou mesmo um texto deste feminista ? coisa que a Beta, se vc ler outros dela ao longo do blog verá que ela tem uma mente até puxa-masculino, imagine os machistas lendo .. é russo heim /

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  2. Atualmente, mesmos as mulheres dependentes financeiramente dos homens,não se veem obrigatoriamente de se exceder em afeto e atenção pelos seus parceiros,nem de se doarem . A vida e uma troca em tudo que se faz.Hoje as mulheres agem da mesma forma que os homens.Todos buscando se realizar,vivenciar seus momentos na plenitude do que for prazeroso pra si.Todos nós gostamos de curtir nossa individualidade.Se for aceitavel ,tudo bem,senão cada um por si e Deus po todos.

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  3. Minha querida, faz mto tempo que não comento por aqui, apesar de ler religiosamente tudo o que sua sensibilidade aqui posta.
    Como todos os seus textos geralmente encaixam-se em mim como luvas, não sinto necessidade de escrever isso em tooodos os seus posts. Vc se cansaria dos meus comentários rápido demais!
    Eu, que completo 29 invernos este ano (digo invernos pq os prefiro às primaveras) venho questionando bastante minhas escolhas e conquistas, exatamente por terem me trazido até aqui, ‘sozinha’.
    Cheguei a uma conclusão: os homens me interpretam mal. Se afugentam ao pensarem que desejo alguém que me trate como uma rainha. Como disse certo dia no twitter, eu não quero alguém abaixo, e nem acima de mim. Quero ao lado, equivalente. Ao que eu sou, ao que eu quero da vida.
    E decidi que não aceitarei menos que isso!! Prefiro relacionar-me com minhas conquistas e solteirices!
    Parabéns mais uma vez pelos seus textos, tão completos!

    Beijo grande, sua linda!!

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  4. Engraçado, são três horas da manhã, te conheci através de uma triste e doente denúncia de plágio e quando fui ler esse texto, me identifiquei muito. Amei, você escreve muito bem, e soube traduzir o como eu sofro com isso também. Os homens sempre nos dizem “nossa, se o mundo tivesse mais mulheres como você, tudo seria melhor”, mas na hora do relacionamento, correm para os braços daquelas que não pensam muito, que pisam em cima deles com seus saltos finos de 15 centímetros de frase “você é um homem objeto”. Nós mulheres decididas e fortes, que não levamos uma vida leviana de sentimentos rasos e lutamos por nosso espaço, ao mesmo tempo que somos vistas com olhos de encanto, há em nós uma aura de perturbação, e essa perturbação atinge todas as convicções masculinas de que mulheres tem de serem “moldadas”. Escrevi uma prosa semi-fictícia sobre isso. Aliás, já escrevi várias vezes sobre isso, é uma forma de desabafo, mas eu não desisto, um dia, quem sabe, encontrarei alguém que me enxergue com os olhos nus, e como você escreveu, que me dê as mãos. Um grande abraço!E virei sua fã!

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