Quer saber? Acho que nós nascemos com algumas qualidades que só têm serventia aos outros, a nós mesmos, só atrapalha. Veja o típico exemplo do bonzinho que só se fode: o sujeito é bom com todo mundo e, no entanto, prejudica a si mesmo. E isso lá é qualidade desde quando?
Minha humildade não me permite assumir certas qualidades em público e, talvez, nem para mim mesma, mas acho até bacana quem se garante e fala sem o menor medo de ser feliz: “sou lindo(a), inteligente, fantástico(a)…”. Pode ser que falte uma pitadinha de humildade para esse cara aí, mas não há como negar que ele tem muito amor próprio. Bom pra ele.
Acho que assumir qualidades, defeitos, posturas e escolhas, sejam elas quais forem, não é tarefa para qualquer mortal. Não mesmo. E eu, mortal que sou, tenho uma dificuldade monstruosa de falar sobre as minhas qualidades, mas hoje eu preciso admitir que…
… eu sou mesmo uma excelente ouvinte! (Óhhh, que orgulho!)
E eu me orgulho tanto, mas tanto de ser assim, que tento a todo custo camuflar essa minha “infeliz qualidade” para poupar meus ouvidos das torturas sofridas diariamente, mas não consigo. É como se tivesse um letreiro enorme na minha testa dizendo: “Fale comigo! Fale comigo!”. O problema não é escutar as pessoas, o problema é SÓ escutar. E não é de todo mundo que eu fujo, só corro daqueles que pensam que eu não passo de uma orelha bonita, descartando completamente a existência da minha boca, do meu cérebro e da minha paciência.
Eu adoro ouvir e contar histórias, gosto de gente, do contato que as palavras proporcionam, da aproximação que elas causam, e têm dias que essa troca de palavras me salva das garras da solidão. Adoro me comunicar, e não foi por acaso que estudei para ser comunicóloga. Pra mim, conversar é uma terapia fantástica e, embora esse texto pareça dizer o contrário, eu gosto de ouvir as pessoas, gosto mesmo, acho até que como jornalista eu sou uma ótima psicóloga.
Mas não consigo imaginar uma conversa sem diálogo, porque monólogos tendem a ser cansativos por demais, principalmente quando eu estou em cena representando uma solitária orelha.
Às vezes, me sinto o próprio orelhão. As pessoas chegam até mim, me usam sem pedir permissão, falam pelos cotovelos e sequer se dão ao trabalho de me comprar um cartão telefônico pra fazer um agrado. É sempre na base da chamada a cobrar. E adivinha quem é que paga a ligação?
Hoje, eu estava almoçando num restaurante self-service, havia algumas mesas desocupadas, sentei numa delas, em seguida, uma mulher de cabeleira loura cor-de-gema, magra, de rosto largo e olhos fundos, sentou à minha frente. Ela pulou a parte do “oi”, e já saiu reclamando do calor, do peixe que não estava no cardápio de hoje, do gelo que o garçom não trouxe. “Pois é…” – respondi e continuei comendo. Não sei se o meu “pois é” foi deveras simpático, ou se o meu – meio – sorriso amarelo foi convidativo demais para iniciar uma conversa, só sei que a mulher não resistiu às minhas atraentes orelhas e, embora eu não tivesse perguntado nada, ela me contou sua vida inteira, começando pelo dia que nasceu e terminando com quem era casada, onde morava, o que fazia da vida, etc…
No começo tentei dialogar: “é mesmo? que legal, sabe que eu gosto muito desse bairro, morei lá quando…”, ela me cortou de imediato e continuou falando de si própria. Ok, entendi! A a ideia não era eu abrir a boca, afinal figurantes não falam. Ali não havia espaço para a minha atuação, aquilo era um monólogo e a estrela era ela.
Depois da vigésima tentativa de me despedir da moça, consegui salvar meus ouvidos, mas saí do restaurante com uma tremenda indigestão.
Os falantes compulsivos devem ter um faro fantástico, e os bons ouvintes, como eu, devem exalar essa característica no ar, porque eles sempre me descobrem seja onde for, e, quando eu dou por mim, minha boca só está emitindo onomatopéias: “Ah, hum, aham, uhum…”
Se isso é conversar, então, “fala que eu te escuto, meu filho”. Mas, veja bem, fala com a minha mão que os meus ouvidos precisam descansar um pouquinho…
Antes as pessoas estavam tão carentes de atenção, que sentiam a necessidade de serem ouvidas, agora a coisa se agravou tanto que elas nem fazem mais questão de serem compreendidas ou consoladas. Se você emprestar sua orelha ou sua mão pra elas dá no mesmo, contanto que nenhuma das duas tente interagir com elas, tá ótimo.
Roberta Simoni
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Eu até tolero gente assim, que gosta do som da própria voz, quando estou de bom humor.
Mas se eu estiver um pouco mal-humorado, já dou um corte pior que o House e mando a pessoa ir catar coquinho.
E como meu bom humor anda curto, no more mr. nice guy.
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O que eu posso dizer… Na idade média não tinhamos tanta importãncia assim… Ou que o iluminismo e auto-ajuda criou imbecis metido a besta…
Não, só vou dizer que não dar para não notar sua boca. =P
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Adorei essa parte das qualidades que temos que na verdade só são benéficas para outros, nunca tinha pensado nisso, mas é bem verdade, muito bom mesmo…to aqui agora pensando nisso…quais serão as qualidades que tenho que não me tem serventia??? Vc me arrumou um puzzle a essa hora da noite…ah, só vc, Beta!
beijocas
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OIeee..ameiiiiiiiiii seu cantinho e sua visita no meu blog! Volte sempre!
beijinhos
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Humm que post interessante Beta….
mas como eu estava dizendo…O meu parto foi complicado e as vezes eu penso que minha mãe quer se vingar de mim. Imagine queaindaduranteo ensinomedio euconheciumagarotaqueAHHHH como eu me esqueci??? Você deve conheceressagarota e…a não importasevc conheça ou não..deixa eu te contar o queeupasseinaepoca…depoismeuanalistadizqueaindaprecisode mais sensões…Claro!!! – eu disse pra ele – você parecemeuchefequevive….
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Putaquepariu Beta…você foi cirúrgica. É impressionante como existe o tal “amor de orelha”. Fila de Banco e viagens médias ou longas também estão entre os habitats preferidos dessas criaturas e eu concordo plenamente com a sua teoria do faro e do feiro…pq, cacete, são 3 minutos de leitura até que uma delas apareça.
Não sei se já aconteceu com você, mas comigo tem acontecido ultimamente com moradores de rua e/ou catador de latinhas durante as baladas…voce pode dizer, é claro, que seja pra filar uma dose ou outra (eu tambem pensava nisso e me parecia obvio) mas o que dizer quando essas pessoas RECUSAM a bebida e continuam falando?
O lado bom é que voce sempre terá uma historia interessante (ou trágica, acaba dando no mesmo) pra contar para um amigo(a) com mais orelhas rsrss
Ótimo Post!! Muito bom mesmo!
Beijos
Igor (ordemincaos.blogspot.com)
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Adorei!
Tambem me sinto assim.
Sempre achei que as pessoas gostam dos meus ouvidos.
Que o fato de estar do lado delas pro que der e vier lhes dá o direito de abusar.
Quando preciso, se resumem a um “entendi”… Puts!
Mas quem nasceu pra ser ouvido nunca vai chegar a boca.
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Oi Pepeco!
Prá variar você mandou muito bem.
Excelente texto, verdadeiro e muito atual.
O humor que você usa em suas crônica, pra quem te conhece, é o mesmo que estar vendo o fato acontecer, é a sua cara.
Como você mesma disse:” filha de peixe, peixinho é”.
Beijos com muito amor e saudade
Mamy
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